Lixo - Receber ao Inves de Pagar


No passado, o lixo urbano foi um resíduo indesejável que não interessou a ninguém, o que obrigou a intervenção meritória pública para fazer sua coleta, tudo bem misturado e atirado em algum buraco em terreno disponível: os lixões. Posteriormente, na coleta, passou a ser bem socado em caminhões compactadores.
Os graves problemas dos lixões são conhecidos: vetor de doenças, gases poluentes da atmosfera, chorume contaminante de lençóis freáticos, mau cheiro, degradação local,etc. Para minimizar os problemas de enterrar lixo, foram criados os lixões tratados:os aterros sanitários, que nem sempre atendem padrões sanitários porque exigem aporte tecnológico e de capital nem sempre disponíveis nos municípios pois enterram dinheiro, nesse caso também com degradação social. Porém, com o alto volume de lixo gerado, devido ao enriquecimento da sociedade e uso de descartáveis,  os aterros sanitários saturam logo e são interditados.

O disparate se perpetuou a partir do momento em que as prefeituras passaram a contratar grandes empresas coletoras e impor taxa de lixo à população, em separado do IPTU, para sustentar o contrato milionário. Em Campinas, custa cerca de 8 milhões por mês para coletar e socar lixo.Para contaminar o meio ambiente e desperdiçar matéria prima nos aterros se gasta, alem dos custos de alguns milhões de implantação, custos de manutenção da ordem de um milhão por mes. A destinação por enterramento para a degradação,  algo que não se tolera mais acontecer, provoca discussões absurdas em nome do meio ambiente, como é a de uso de papel e papelão contra saquinhos de plástico em supermercado. A discussão deveria ser a de custos econômicos e energéticos, que também é poluente, para reciclagem de um ou outro produto, ou de reutilização de embalagem.

A viabilidade econômica do lixo como matéria prima está provada pela existência de inúmeros coletores e empresas recicladoras dedicadas, apesar de terem ainda um sistema  ineficiente de coleta e manipulação. Cooperativas que sobrevivem do lixo ~e outra prova inconteste. A pergunta é: porque não se desenvolve a industria do lixo? Entendo que é porque sua gestão é monopolizada pela intervenção estatal, se tornando, ai sim, um problema ambiental. Na pior das hipóteses, seria melhor gastar para reaproveitar que enterrar, o que, há quem defenda, seria mais barato. Entretanto, apenas cerca de 4% do lixo da cidade é reciclado. Portanto, há muito que fazer, mas certamente não será feito se o lixo continuar a ser tratado como falta de consciência ambiental dos cidadãos, fantasia ambientalista, tese acadêmica, tema de filme que enaltece a miséria e mecanismo assistencialista, ao invés de ser tratado como fonte de ambição e lucro, e passar a ser gerido pelo mercado ao invés de pelo Poder Publico, criando empregos.  A começar pelos fornecedores, a população em geral, que devem, ao invés de pagar,  receber conforme entregam o resíduo: separado, limpo, etc. Isso exigirá alguma estratégia custosa de acondicionamento para esperar a coleta. Tal estratégia de separação na origem deve ser seguida por uma estratégia de coleta que mantenha a separação.

Portanto, a coleta tem que ser seletiva na sua totalidade.  A destinação tem que ser a industrialização do resíduo orgânico e inorgânico e/ou a de reutilização de embalagens via um sistema de devolução integrado.  Estratégia de coleta e reutilização pode gerar de outro lado influencia sobre que material é viável ou não economicamente de ser utilizado na produção. Mas, para que a coleta e destinação racionais se realizem é necessário que seja desimpedido e estimulado o caminho dos agentes privados dotados de capital, tecnologia e idéias para o reaproveitamento mais racional  do lixo, interessados na coleta seletiva total e destinação industrial do lixo, orgânico e inorgânico. Infelizmente acontece o contrário, a coleta é monopolizada e os coletores independentes são perseguidos. Mas, poderia começar pela expansão para a coleta do sistema de cooperativa de coletores que hoje só manipula material da coleta seletiva municipal, que é incipiente, e o estimulo à atividade dos coletores independentes.Entendo, que o maior problema é de fato político, ou seja, a passagem da coleta  e destinação publica, onde há interesses em ficar como está, para o setor exclusivamente privado,  sem se tornar um monopólio privado sob concessão do estado o que gera distorções já conhecidas nas privatizações.

Um bom assistencialismo, verdadeira função do estado, poderá ser feito quando o lixo deixar de ser problema do setor publico para ser solução economica para a sociedade e economizar muitos milhões de dinheiro publico.

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